terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Resumo do texto - Didática: Uma Retrospectiva Histórica

Em seu texto "Didática: uma retrospectiva histórica", a autora Ilma Passos procura traçar a trajetória histórica da didática no Brasil. Indo do período que abrange desde a colonização em 1549, com a chegada dos jesuítas como primeiros educadores; depois acentuando as transformações durante a década de 30, onde finalmente a didática é incorporada como disciplina nos cursos para a formação dos professores; chegando por fim aos dias atuais. A autora destaca ainda a influência e determinação dos contextos sócio-econômicos e políticos, que servem para identificar as propostas pedagógicas presentes na educação.

Como colônia de exploração a sociedade brasileira não via na educação o valor social importante para formação da sua "gente". A tarefa educativa era voltada basicamente para a catequese dos indígenas, enquanto à elite colonial era oferecido outro nível de educação.

Alheia à realidade da colônia, o ensino direcionado para elite tinha como essência fudamentadora a idéia Ratio Siudiorum, cujo objetivo se voltava para formação do homem universal, humanista. A educação se apegava ao ensino enciclopédico, humanista de cultura geral alienado da realidade do contexto social vigente.

Os jesuítas em sua atividade pedagógica privilegiavam o exercício da memória e desenvolvimento do raciocínio, promovendo a formação dogmática do pensamento; dedicavam a atenção ao preparo dos padres-mestres dando ênfase a formação do caráter e sua formação psicológica para conhecimento de se mesmo e do aluno.

A metodologia de ensino estava centrada no caráter meramente formal, tendo por base o intelecto, o conhecimento, marcado pela visão essencialista do homem. Assim não se poderia pensar em uma prática pedagógica e muito menos em uma didática que buscasse uma perspectiva transformadora na educação.

Segundo Ivani esses foram os alicerces da pedagogia tradicional na vertente religiosa, que como observado por Saviani "é marcada por visão essencialista do homem considerada universal e imutável".

Na transição do modelo agrário-exportador para um urbano-comercial-exportador, em meados de 1870, o Brasil vive o seu período de "iluminismo" ficando cada vez mais independente da influência religiosa. O estado passa a adotar uma postura laica no campo da educação. Em 1890, com a influência de uma visão cada vez mais positivista é aprovada a reforma de Benjamim Constant.

A Pedagogia Tradicional em sua vertente leiga mantém a visão essencialista do homem, não mais ligada à criação divina e sim aliada à noção de natureza humana essencialmente racional, inspirando a criação da escola pública, laica, universal e gratuita.

A Pedagogia Tradicional caracterizava-se por dar ênfase ao ensino humanístico de cultura geral, enciclopédico, não levando em consideração o contexto, a realidade em que o aluno está inserido; o professor se torna o centro do processo de aprendizagem, a relação pedagógica se dá de maneira hierarquizada e verticalizada; o aluno é educado para seguir atentamente a exposição do professor, sendo concebido este como um receptor passivo. Na Pedagogia Tradicional a didática é compreendida como um conjunto de regras que assegura aos professores as orientações necessárias para o desenvolvimento do seu trabalho. A atividade docente é entendida como inteiramente autônoma face à política dissociada da relação escola/sociedade. Uma didática que separa teoria e prática.

Só quase um século depois, desde o inicio da criação em 1835, da Pedagogia Tradicionalista leiga, se dá em 1934, a inclusão da Didática como disciplina em curso de formação de professores para o então ensino secundário.

Durante a década de trinta com a crise mundial da economia capitalista e por conseqüência crise cafeeira no Brasil a sociedade brasileira sofre profundas transformações no seu contexto sócio-econômico e político. O desencadeamento do movimento de reorganização das forças econômicas resulta na chamada “Revolução” de 30, que é comumente tomada como o inicio de uma nova fase da República do Brasil.

No que se refere à educação, em seu governo, Vargas constitui o Ministério de Educação e Saúde Pública. Em 1932, já preparando o caminho para o que seria concebido como a reconstrução social da escola na sociedade urbana e industrial, é lançado o Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova. Efetiva-se também em 1932 a reforma Francisco Campos. Organizando o ensino comercial, adotando o regime universitário para o ensino superior e a organização da primeira universidade brasileira. A origem da Didática como disciplina dos cursos de formação de nível superior está vinculada a organização da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da Universidade de São Paulo de 1934. No inicio a parte pedagógica existentes nos cursos de formação de professores era realizado no Instituto de Educação, sendo aí incluída a disciplina “Metodologia do Ensino Secundário”, equivalente à Didática hoje nos cursos de licenciatura. Por fim em 1941, foram introduzidas alterações que fizeram da didática um curso independente, realizado após o término do bacharelado (esquema três mais um).

O período que vai de 1930 a 1945 é marcado pelo equilíbrio entre as influencias das concepções humanista tradicional e moderna. Segundo Saviane a concepção humanista moderna está baseada em uma “visão de homem centrada na existência, na vida, na atividade”. No predomínio do aspecto psicológico sobre o lógico.

A proposta escolanovista é a de “um novo tipo homem”, defende os princípios democráticos, onde todos têm o direito a se desenvolverem. No entanto como observa a autora, isto se dá em uma sociedade dividida em classes, sendo evidente às diferenças entre o dominador e as classes dominadas.

O escolanovismo vê a criança como um ser dotado de poderes individuais, que deve ser respeitado na sua autonomia, liberdade, iniciativa e interesses. O problema da visão escolanovista em relação as suas proposta de solução educacional, está na consideração somente dos aspectos internos da escola, não levando em conta a abrangência do contexto em que esta se insere. Não há reflexão da realidade brasileira em seu cunho político-social, o problema educacional passa a ser uma questão escolar técnica. A ênfase é dada no “ensinar bem”, mesmo que seja para poucos. Assim o professor absorve o ideário do escolanovismo e a didática passa a acentuar o caráter político técnico do processo ensino-aprendizagem onde teoria e prática são justapostas. A didática é entendida como um conjunto de idéias e métodos, privilegiando a dimensão técnica do processo de ensino.

O período de 1945 a 1946 corresponde à aceleração e diversificação do processo de substituição de importações e a apresentação de capital estrangeiro. No final do período começa a se delinear uma polarização, deixando à vista dois caminhos para o desenvolvimento: o de tendência populista e o de tendência antipopulista. Em 1946 o esquema de três mais um é extinto, a didática perde seus qualificativos geral e especial e se introduz a prática de ensino sobre a forma de estágio supervisionado.

E ste período é marcado também pelo desenvolvimento de lutas ideológicas entorno da oposição entre, os defensores da escola pública e os defensores da escola particular. A escola católica se insere no movimento renovador, difundindo o método Montessori e Lubienska.

Neste momento o ensino de didática, inspirada no liberalismo e no pragmatismo, acentua a predominância dos processos metodológicos em detrimento da própria aquisição do conhecimento. Acentuava-se o enfoque renovador-tecnicista da didática na esteira do movimento escolanovista.

Os anos que correram de 1960 a 1968 foram marcados pela crise da Pedagogia Nova e a articulação da tendência tecnicista, assumida pelo grupo militar tecnocrata. Essa pedagogia foi embasada pelo pressuposto da neutralidade científica, inspirada nos princípios da racionalidade, eficiência e produtividade. Instalou-se na escola a divisão do trabalho sob a justificativa de produtividade, o que resultou na fragmentação do processo e acentuou a distância entre quem planeja e quem executa. Com a desvinculação entre a teoria prática na didática tecnicista, o professor torna-se mero executor de objetos instrucionais, de estratégias de ensino e de avaliação.

Em 1974 coma a abertura gradual do regime político autoritário, começa a se desenvolver estudos como a postura mais crítica em relação à educação dominante, evidenciando as funções reais da política educacional vigente. Tais estudos que, mais tarde foram denominados de “teorias crítico-reprodutivas”, concluíram que até então, a educação tinha como função primordial a reprodução das condições sociais vigentes. Havia uma predominância dos aspectos políticos, enquanto as questões didático-pedagógicas foram minimizadas.

Com os estudos da teoria crítico-reprodutiva os alunos passam a exigir uma atitude mais crítica e os professores procuram rever sua própria prática pedagógica a fim de torná-la mais coerente com a realidade sócio-cultural. A didática é questionada e os movimentos em torno de sua revisão apontam para busca de novos rumos.

Na década de 80 a política econômica de recessão dificulta ainda mais a vida do povo brasileiro, com elevado índice do desemprego, alta da inflação e o aumento da dividida externa.

A partir da instalação da República Nova, na primeira metade na década de 80, a luta operária se fortalece, contagiando outras categorias profissionais, dentre elas os professores. Os professores se empenham para a reconquista do direito e dever de participar na definição da política educacional e na luta pela recuperação da escola pública. Ocorre a realização da I Conferência Brasileira de Educação que se constituiu em um espaço de discussão e disseminação da concepção crítica da educação.

Na pedagogia crítica a educação não está centrada no professor ou no aluno, mas na questão central da formação do homem. A educação está voltada para o ser humano e sua realização em sociedade. A escola se organiza como espaço de negação de dominação e não mero instrumento para reproduzir a estrutura social vigente.

Nesse sentido, agir no interior da escola é contribuir para transformar a própria sociedade. A Didática crítica busca superar o intelectualismo formal do enfoque tradicional, evitar os efeitos do expontaneísmo escolanovista, combater a orientação desmobilizadora do tecnicismo e recuperar as tarefas especificamente pedagógicas desprestigiadas a partir do discurso reprodutivista. Procura ainda compreender e analisar a realidade social onde está inserida a escola.

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